Natal
Não fora a liturgia, seria desolação.
Salvou-me o "Gloria in excelsis Deo", eterno, universal, no coro juvenil.
Antes da Missa uma singela encenação de adolescentes (surpreendentemente amadora, tímida e pontuada de risinhos nervosos, como as nossas mesmas - mas, por isso, mesmo, mais encantadora) do nascimento do Menino. Rejeitados nas hospedarias, onde não havia lugar para eles, a menina grávida, "just sixteen, mama-child", e seu jovem marido, quase adolescente, dá a luz à Ele, num curral, entre palha, sujeira e animais, que O aquecem e, certamente, O reconhecem.
Piedosamente o evangelista acrescenta o coro de anjos, para marcar o nascimento de Deus. Mas, como lembrou Cony, diz-nos o mesmo S. Lucas: nasceu no meio do silêncio, "dum medium silentium". Em loucura de paixão pela sua criatura, veio para o mundo, que gerou, que Lhe pertence e anima, mas o mundo não O conheceu e ainda nao O conhece. Me encanta e inebria pensar nisso: no Deus Menino que desce ao mundo em silêncio, discretamente. Penso no Universo se estremecendo, em reverência muda.
A homilia simpática e corajosa do prior (pároco) Manuel Rocha. Lembrou a riqueza escandalosa da Europa e de Portugal, porque insensível à pobreza do mundo - Europa cristã.
Só faltou para mim, e eu queria, que falasse do Menino Jesus de Fernando de Pessoa, que fugiu do céu, desceu à terra num raio de sol,
"Apanha flores para deitar fora,
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães."
Mas faltaram os fogos, as buzinas, o movimento dos carros, até o barulho de farra.
Me afastei da sacada do apartamento.
Salvou-me o "Gloria in excelsis Deo", eterno, universal, no coro juvenil.
Antes da Missa uma singela encenação de adolescentes (surpreendentemente amadora, tímida e pontuada de risinhos nervosos, como as nossas mesmas - mas, por isso, mesmo, mais encantadora) do nascimento do Menino. Rejeitados nas hospedarias, onde não havia lugar para eles, a menina grávida, "just sixteen, mama-child", e seu jovem marido, quase adolescente, dá a luz à Ele, num curral, entre palha, sujeira e animais, que O aquecem e, certamente, O reconhecem.
Piedosamente o evangelista acrescenta o coro de anjos, para marcar o nascimento de Deus. Mas, como lembrou Cony, diz-nos o mesmo S. Lucas: nasceu no meio do silêncio, "dum medium silentium". Em loucura de paixão pela sua criatura, veio para o mundo, que gerou, que Lhe pertence e anima, mas o mundo não O conheceu e ainda nao O conhece. Me encanta e inebria pensar nisso: no Deus Menino que desce ao mundo em silêncio, discretamente. Penso no Universo se estremecendo, em reverência muda.
A homilia simpática e corajosa do prior (pároco) Manuel Rocha. Lembrou a riqueza escandalosa da Europa e de Portugal, porque insensível à pobreza do mundo - Europa cristã.
Só faltou para mim, e eu queria, que falasse do Menino Jesus de Fernando de Pessoa, que fugiu do céu, desceu à terra num raio de sol,
"Apanha flores para deitar fora,
Limpa o nariz ao braço direito,
Chapinha nas poças de água,
Colhe as flores e gosta delas e esquece-as.
Atira pedras aos burros,
Rouba a fruta dos pomares
E foge a chorar e a gritar dos cães."
Mas faltaram os fogos, as buzinas, o movimento dos carros, até o barulho de farra.
Me afastei da sacada do apartamento.
Comentários
Bjs
Grilo Falante
Espero que o ano novo tenha lhe encontrado com fogos e buzinaços e um estado de espírito mais alegre...
Bjs
Grilo Falante