Ainda o caso da dita "primeira-dama"

As folhas informaram ontem que a Justiça negou provimento ao pedido de liminar à ação proposta pelo Ministério Público que requeria o afastamento da mulher do Prefeito do comando do Fundo Social de Solidariedade (instituição anacrônica, clientelista, abominada pelos que se dedicam à assistência e promoção social).

O argumento usado pelo Juiz, Dr. Paulo Roberto da Silva, em resumo, é que o cargo não é remunerado e, portanto, sem prejuízos aos cofres públicos.

Ah, que equívoco se as razões levadas ao Dr. Paulo, pelo promotor Sampaio, autor da ação, tenham sido esses prejuízos, pois o mérito da questão não é se a mulher do Prefeito ganha algum ou não com suas estripulias na administração municipal – isso, algum dia, não percamos a esperança, ainda pode ser apurado em algum inquérito policial-criminal. A questão crucial é transformação dos negócios públicos em negócios familiares, é apropriar-se do espaço público e transformá-lo em assunto de cozinha e de alcova. É a apropriação do poder público para uso pessoal.

A Justiça tem que ser cega aos preconceitos, à distinção de pessoas,  mas clarividente quanto ao mundo real, que cerca e vai muito além dos resumos e argumentos lançados nos autos, como bem recomendou o ministro Joaquim Barbosa: “saia às ruas!”, ouça o povo. Justiça enclausurada é Justiça injusta. No mínimo, Justiça ingênua. O dito “o que não está nos autos não está mundo” não é absoluto.

Pois basta olhar em volta que a Justiça verá que está sendo escarnecida pela mulher do Prefeito, que se desloca em flagrante desafio e deboche à decisão judicial que a afastou do comando do Departamento de Ação Social. Logo após esta, ela, boquirrota, falou, esperneou, desafiou e afirmou reiterada vezes: “saio do DAS mas continuo comandando a ação social – leia-se: clientelismo - da Prefeitura a partir do Fundo de Solidariedade.”

E tanto é que o chefia do DAS é “ocupada interinamente” pelo Prefeito. Ora, quem poderia acreditar que a chefia de fato não é exercida pela própria pessoa que partilha o leito conjugal com o Prefeito e que disse que continuaria a mandar? Aqui está o que me referia quanto aos assuntos de alcova.

A decisão judicial é provisória e a realidade ainda pode ser considerada. Há esperança. Mas é só ela, a esperança, que nos resta? Não, a dignidade, e o dever, de combater a indignidade.

Joffre Neto é diretor-executivo da Transparência Taubaté.

Comentários

Anônimo disse…
necessario verificar:)

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