Vergonhoso atraso



CONEXÃO TAUBATÉ

Joffre Netojoffreneto@joffreneto.com.br

VERGONHOSO ATRASO

No ultimo final de semana participei das comemorações dos 25 anos da minha turma de engenharia, na Universidade Federal de Itajubá (UNIFEI, ex e saudosa EFEI). Assisti a uma palestra motivadora, empolgante, do reitor, Prof. Renato Nunes. Falava ele da função social da universidade, do seu compromisso com a nação. Temos avanços recentes, mas há ainda enormes desafios a vencer. Um único índice demonstra isso: somos talvez a 12.ª economia do mundo, mas estamos em 75.º lugar em desenvolvimento humano. Como superar esse abismo é sabido por todos: investir principalmente em educação.

Nesse sentido, como a universidade pode colaborar? Superando, em primeiro lugar, a visão reducionista que lhe é suficiente formar bons profissionais. Precisa ir além: colaborar na construção da nação. Um exemplo: não há país que possa se desenvolver sem produzir tecnologia (até o momento, somos, quase exclusivamente, replicadores de tecnologia importada). E tecnologia se produz com pesquisa, e se difunde por meio do ensino, precisamente duas das funções essenciais da universidade.

Citou o reitor como exemplo, para minha vergonha, que no Vale do Paraíba temos, segundo dele, um exemplo marcante de iniciativa inteligente, estratégica e competente de concretização dessa idéia: o Pólo Tecnológico de São José dos Campos, que agregou ITA, Embraer, Vale, IPT, BNDES e Escola de Engenharia de São Carlos. Só a Vale vai investir R$ 300 milhões! E numa área em que São José não tem nenhuma tradição: desenvolvimento de tecnologia em energia.

De seu lado, a pequena Itajubá, por meio e iniciativa da UNIFEI, vai se concentrar em tecnologia aeronáutica, com o objetivo aberto desta de “tornar-se melhor do que o ITA”, complementando a formação dos alunos do curso em engenharia aeronáutica na Universidade de Toulouse, França. Como se fosse pouco, a UNIFEI vai dobrar sua área, transformando-se numa super-cidade universitária, que abrigará, justamente, um parque tecnológico, a exemplo de São José dos Campos.

E nós? E nós? Como ficamos ante a tudo isso, a essa avassaladora onda de mudanças econômicas e estruturais da nossa sociedade? Que nos sobrará de, por exemplo, da implantação do trem bala? Por acaso a iniciativa da Prefeitura será instalar banquinhos sobre cafonas tubos de concreto pintados de ocre (ou de cor de burro quando foge), na várzea do Paraíba, para se dar tchauzinho aos passageiros quando ele passar?

Onde está a nossa universidade, justificado orgulho nosso? Abre a Prefeitura espaço para sua colaboração? Em que projeto de desenvolvimento, nem digo da nação, mas do município, ela está envolvida? Temos tantas boas cabeças lá, precisamos delas para ajudar a superar as mazelas de nossa comunidade.

Mas, principalmente, onde estão aqueles que poderiam mudar isso? Estariam ocupados demais em meter a mão no dinheiro público, atarefados nas licitações fraudulentas, lambuzados no crime hediondo de desvio de medicamentos, ou absorvidos pela breguice desonesta e pelos rapapés dos aspones? (Claro que uso aqui figuras de linguagem e não me refiro aos nossos líderes municipais e esposas, que são exemplos de probidade e aristocrática elegância).

Até quando toleraremos essa gente?

Joffre Neto é diretor-executivo da Transparência Taubaté.

Mantenha-se informado, siga-me no twitter: www.twitter.com/joffreneto

Comentários

Stella disse…
As universidades ainda estão longe de seu verdadeiro papel: libertar da ignorância! enquanto o conhecimento estiver enclausurado dentro de seus muros, manteremos a redoma dos chamados "tropa de elite do conhecimento". A sociedade vive à margem do que acontece dentro desses muros. E haja dinheiro dos órgãos de fomento que são liberados tão somente quando o projeto estiver enquadrado no que eles chamam de "relevante". Só Descarte pode explicar tamanho reducionismo. O positivismo impera soberano ainda.
Estamos vivendo um período de desgoverno em Taubaté, a cidade não parou, apenas está andando para trás.
O que nós podemos fazer para mudar isso?
Joffre Neto disse…
Concordo, Stella. Apenas uma profunda ética humanista pode superar isso.
Joffre Neto disse…
"Isto sim" o que podemos fazer?
Muito. Primeiro, manter a indignação. Agir no que estiver ao nosso alcance,seja uma denúncia, seja uma sugestão, seja a resistencia ao descalabro, como vc já vem fazendo.
Reunir as pessoas de boa-vontade e com sensibilidade ética e social. Construir um projeto político de acesso ao poder - de forma compartilhada, a serviço, sem revanchismo.

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