Ética e Política

Tal é o estado de deterioração de nossos costumes (mores) que as duas palavras acima parecem inconciliáveis. Absurdo dos absurdos porque, justamente, a política não tem sentido, nem razão de existir, sem a ética.

Há uma sentença célebre de Santo Agostinho, que nos relembra isso: “Sem a justiça [ética], o que seriam os reinos [governos] senão bandos de ladrões?” Por que será? Vejamos:

A política, desde os gregos, que criaram esse conceito, é considerada a mais nobre das atividades humanas, porque deve ser, precisamente, a dedicação ao bem-comum, ao estabelecimento da justiça, à defesa dos indefesos, à criação de condições para o progresso material e espiritual dos povos e para a realização plena de cada indivíduo.

Assim, os homens e mulheres que se dedicam à política devem estar movidos por uma vocação nobre, a de servir à coletividade, “despidos de todo interesse material” e/ou exclusivamente pessoal.

Então política não é profissão, é vocação. Não pode ser para pessoas que desejam status, vantagens, mordomias e ganhar dinheiro. É para idealistas, não para comerciantes de bens alheios, ou seja, ladrões.

De fato, se a dedicação à política não for motivada por valores da justiça [ética], será motivada por valores materiais. Em cada ação pública, minima que seja, o agente público pensará não em atender ao bem-comum, mas em como “levar vantagem”, aplicando, à larga, a Lei de Gerson.

Vejamos alguns exemplos:

Para intermediar audiência com um governante, pode cobrar, digamos, uma “taxinha”: R$ 2.000,00 vai bem? Para cada projeto, verifica-se primeiro que lucro pode dar, que empresários podem “ajudar”. Uma permissão a título precário para instalação de uma baita tenda? Pois não, basta pagar uma taxa e uma “caixinha”.

Uma autorização para construção em área proibida? “Vejamos: quantos apartamentos levamos nessa?”. Uma obra emergencial, uma ponte que caiu? Que felicidade! Pode-se contratar quem quiser, desde que com a devida “colaboração”. Em troca, além da obra, uma área pública, como brinde.

Autorizar uma tomada de preço de R$ 150.000,00? Ok, desde que a obra custe R$ 100.000,00 e repartamos a diferença, em três partes iguais, sem ganância!

Uma compra gigantesca de medicamentos? Como não! Mas que tal desviar dois terços para o fornecedor que nos ajudará na próxima campanha?

Comprinhas em São Paulo de oito terninhos a módicos R$ 30.000,00 em dinheiro? Claro que sim! Afinal, todo corrupto anda bem-vestido!

Oh, que mundo feliz, risonho!

Sim, feliz e risonho - para poucos degenerados, à custa das filas intermináveis nas repartições de saúde, da cidade tomada pelo lixo, da epidemia de dengue, do sucateamento da máquina administrativa, do treinamento de dilapidadores da coisa pública, do atraso que pode se expandir por décadas.

Ainda bem que essas coisas não acontecem em Taubaté.

Joffre Neto, Conselheiro Municipal de Saúde, é tambem professor universitário de Ética e Cidadania.

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