PEIXOTO E O BARÃO DE CONDORCET

Quem, afinal, elegeu Peixoto? Os seus cupinchas e benefiários, assim como os cidadãos de boa-fé (ainda que de nariz tapado) dirão que foi o povo de Taubaté. Triste engano! Quem o elegeu foi um erro matemático, uma distorção eleitoral.

Um exemplo pode bem ilustrar o que quero dizer.

Imagine uma eleição entre 10 candidatos, e que 8 deles tiveram 10% dos votos, um 9% e um 11%. Quem ganhou a eleição? Obviamente, o de 11% dos votos. Teria sido uma escolha democrática, no sentido de o eleito representar a vontade da maioria? Obviamente que não.

Assim aconteceu conosco. Dos três candidatos que realmente contavam, tivemos as seguintes votações: Peixoto 50.170 (34% dos votos válidos), Pe. Afonso, 48.601 (32%) e Ortiz Jr. 46.890 (31%). Ora, a cada três taubateanos, dois não queriam Peixoto! Pior: se considerarmos todo o corpo de eleitores, Peixoto mal alcançou um quarto do total, quer dizer, a cada quatro taubateanos, três queriam o “Prefeito dos Ovos de Ouro” longe da Prefeitura. Este foi o erro matemático.

Culpa de quem? De quem não ouviu o Barão de Condorcet, matemático e filósofo francês, nascido em 1743. Esse precursor da ciência política, entre muitas contribuições, criou o que ficou conhecido como Teorema de Condorcet, que, basicamente, diz que quando três ou mais candidatos estão em disputa, ganha o pior! Bingo! Quase três séculos atrás o bendito Barão previu o que aconteceria nesta terra de Lobato. Ó desdita, pá! – como diriam os lusos, na saudosa terrinha.

A solução é justamente o estabelecimento do segundo turno em eleições majoritárias (prefeitos, governadores, presidente). Não só o segundo escrutínio evita que candidatos minoritários (e, muitas vezes, como entre nós, rejeitados pela maioria) ganhem os pleitos, mas também diminui as chances do pior chegar lá.

Cruz credo, o consolo é que não há mal que sempre dure. E que nunca mais caiamos em tão grande desventura!

Joffre Neto é professor universitário de ciência política e co-autor do livro “Reforma Política e Cidadania”, (Perseu Abramo) coletânea encabeçada pelo Prof. Dr. Fábio Konder Comparato.

Comentários

Unknown disse…
Brilhante exposição caro professor, didática, serena e inquestionável. Ainda bem que nosso próximo pleito eleitoral será em dois turnos, o que impedirá que uma administração apenas "razoável" justifique uma segunda oportunidade, apenas e tão somente para que o mandatário e seus asseclas se locupletem.

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