A Copa e o Brasil monoglota

Um dos temas que me desperta interesse permanente é a nossa presença consciente no mundo, no que as pessoas chamavam antigamente de “concerto das nações”. Que papel desempenhamos na aldeia global?

Só é possível conhecer-se na comparação com o outro. Só conheceremos nossa verdadeira importância interagindo com outros povos, para, enfim, nos libertarmos do “complexo de vira-lata”, na famosa expressão de Nelson Rodrigues.

Observe-se só, agora, em tempo de Copa, o quanto nos sentimos melhor: passamos a existir, nos percebemos, de certa forma, no mesmo nível de qualquer outra nação. Não há uma renovação de ânimos, de aumento da auto-estima nacional e a sensação que podemos tudo o que podem os povos mais desenvolvidos?

E, conhecendo-se outros países, fica evidente que somos “parte do time” em muitos outros campeonatos, além do de futebol. Aumentemos, então, nosso contato com o resto do mundo. Isso, obviamente, pressupõe uma forma de comunicação, uma língua que ultrapasse as fronteiras. Tanto quanto o latim o era no mundo antigo, hoje o inglês é essa lingua.

Ouço, através da janela do meu apartamento, as crianças portuguesas do primário, na escola pública ao lado, tendo aulas de inglês inseridas até nas atividades de educação física. E nós, como ficamos? Bem, seguindo a velha habilidade, nossas intituições são ases de enganação. Há ensino de inglês no ensino público brasileiro, sim senhor! Mas tente o diálogo mais banal com um aluno que concluiu o ensino médio, que já foi exposto a pelo menos cinco anos à lingua estrangeira, e vai ver que não sai nem um “the book is on the table”.

Culpa do aluno? Um pouco, mas principalmente da farsa do nosso ensino. Conheço mais de um professor de inglês que ... não fala inglês! É como um professor de música que não sabe cantar, como comparou alguém.

Façamos uma continha. Se tomarmos apenas os dois últimos anos do ensino fundamental, uma criança brasileira teve cerca de 120 horas de inglês, ou seja, 40 semanas letivas anuais, com hora e meia de inglês cada uma. Ora, se ela não aprendesse mais nada que 6 palavras novas por aula, articuladas minimamente, adquiriria um vocabulário de mais de 1.000 palavras, que seria suficiente para entender as notícias de um jornal ou ler um manual de instruções. Mas que esperança! Já encontrei universitário formado que não sabia o que era “street”, num formulário na internet.

PS: Subiu à cabeça. A televisão portuguesa está encrespada com os sucessos da “equipa” de Scolari: hoje recordava, cheia de esperanças, a vitória de 3x1 de Portugal sobre o Brasil - em 1966. Como sonhar não dói...


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